Alguma Literatura
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terça-feira, 31 de janeiro de 2012
sábado, 28 de janeiro de 2012
Palmo medido...
Palmo medido I.
Adiante, praça acossada.
com braço esticado
na altura dos olhos.
Valiosa
a linha misteriosa.
Céu e Terra em colóquio
cara a cara.
Qual o assunto?
Queixas dos homens?
Inveja do mar?
Voam
II. Na praça, uns.
faces velozes
Voam.
Caóticas, as trilhas
sinuosas, as sinas.
Faces velozes
alagam horizonte possível.
O palmo; agora mais
largo.
Ala(r)gamento contido
em copo d’água.
Louro balanço III.
Uma. (Eu-mendigo).
passo decidido.
Quebra recompõe
quebra.
De onde vem essa fé na vida?
Essa convicção
de merecê-la,
de onde?
Se não lhe faz falta
tem um pouco pra mim,
por caridade?
Precisando tanto...
quinta-feira, 26 de janeiro de 2012
sábado, 21 de janeiro de 2012
Fique à vontade
Ali na esquina. Espaço. Talvez um metro quadrado, limites incertos,
paredes translúcidas. Puro doméstico recato. Odores – suor, mijo, merda –
domésticos. Gestos, os mais íntimos, conquistaram-no, palmo a palmo.
Ela tateia seu rosto. Os
indicadores limpam sua pele. Afastam cabelo, barba. Localizado o cravo, usa os
polegares. Olhos ausentes fitam ponto fixo. Sutil expressão sinaliza dor.
Atenta, ela colhe as nuances. Para. Vê. Continua.
Ali. Microcosmo. O ambiente pede um “com licença”. “Fique à vontade”,
diria ela. Ou ele. Ou ambos, em coro.
quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
Migalhas
Quando me ignoras
Quando preferes a sala vazia
À minha companhia
Abres, silencioso, cova
De esfarelada indiferença.
Ali, o amor,
Se ainda o tenho,
Vai se deitar.
Toda noite, com os olhos
fechados, ele espera
Que lhe cubra
a última pá.
Mas – tão inábil –
Não sabes sequer
Desenganar
E cobre-me
Com tua ternura pouca, ou
nenhuma.
terça-feira, 17 de janeiro de 2012
Comércio
Próximo!
E mais um bombom, por favor.
Dá R$ 5,25. Teria 25 centavos?
Não.
Um, dois, três, quatro e setenta e
cinco.
Obrigado.
De nada. Próximo!
segunda-feira, 16 de janeiro de 2012
A minha visão...
A MINHA visão 1. O mundo sensível
é uma navalha
a audição, o tato,
paladar e olfato?
São n navalhas.
Percebo o mundo
ao seccioná-lo.
Minúsculas fatias.
Pedaços diáfanos
de um todo opaco.
AO CORTAR a fruta 2. Tarefa doméstica
entendo-lhe a fibra
noto-lhe a consistência
pelo punho que vibra
e o modo desse vibrar
enquanto desliza.
Ou, se descarrila,
noto a carne minha
e essa prova a faca
redundantemente.
É QUANDO uma lâmina 3. Síntese
ensimesmada.
É onde uma faca
em si enrolada.
n
de navalha.
É quem o fio
escondido em si.
É porque espada
desembainhada.
n
de navalha.
sábado, 14 de janeiro de 2012
Outra Penélope
“...and
the black arms of tall ships that stand
against
the moon, their tale of distant nations.”
(James
Joyce, A Portrait of the Artist as a Young Man)
λιμάνι
E despedida
despe-a-ida
vela lassa –
alva asa calva
lamúrias no cais
ou
calar
tonitruante ou
só o conoro
marulho
discurso mudo.
ωκεανός
Amarado o velame
vela-me pando
é o retransir o
Reino
do esposo infiel
e pai de
Polifemo.
ομίχλη
Onde, o relume?
Sol de leite
- salvador de
Enéias .
Náu nossa erra
desorfada
Senda sáfara
sinuosa amarga
Maremareada jornada
Ir-vagar-perder-achar-vir
αγάπη
Rubi os olhos
esmeraldinos
Esperam.
Ela.
Tecem suas mãos
mentiras cíclicas?
Acariciam amor
visível, crível?
Aguardam figura
elíptica?
Mar, medianeiro
mar.
Homenagem a João Foti
sexta-feira, 13 de janeiro de 2012
Tauromaquia
O paseo já tem início.
Passos
firmes de herói
Olhadela ao precipício
Por mais que fugaz, corrói.
- E tu, fera,
tens já medo?
- Não. O porvir
desconheço.
O homem que empunha a lança
Destreza
veloz: montada.
O animal fere e alcança
Prepara a faena aguardada.
- Touro, és
forte, mas lento.
- Luto, mas
golpeio o vento.
Altivo, o Toureiro a capa
Rubras
asas. Inflam. Somem.
Hora esconde, hora destaca.
O Feroz só roça o homem.
- Touro, és acaso
cego?
- Não. Miro, mas
não acerto.
Bandarilheiro boçal
Empáfia.
Som de fanfarras.
Adorna o belo animal
Ganhando vivas e palmas.
- Por que não
gritas, oh Touro?
- Eu grito, mas
não me ouço.
O Assassino, com a muleta,
Música
ainda mais alta.
Parece varrer poeira
Que lhe caiu na ribalta.
- Quase feriste o
inimigo:
- Cabecear não
consigo!
O Animal ergue a espada
A
tensão incha o instante.
E executa a estocada.
Touro ao chão, resfolegante.
- Touro, morres
com hombridade.
- Sanguinária
humanidade...
quinta-feira, 12 de janeiro de 2012
Mulher enlutada
1.
Dor nova
A viuvez. Dor ritual. O luto. O
sofrimento ostensivo. Condolências. Pêsames. Sentimentos e pesares. Cartões e
telegramas. Flores e cartas. Obituário. Mudança de estado. Também de vestuário.
Sai o vermelho entra o negro. Mudança de comportamento. Sai a tagarelice entra
o silêncio. Não necessariamente sofrido, mas sempre refletido e inundado de
lembranças multicoloridas. Missas. Corpo presente. Sétimo dia. Trigésimo dia.
Missa. Um ano. Finados. Com muito estardalhaço a alma se vai. “Segura na mão de
Deus e vai”. E vai bastante encomendada e recomendada. Em criança, ela imaginava
como se processariam, no céu, as intenções de uma missa. Havia visto professor
bater na porta de seu pai pedindo emprego com carta de recomendação a tiracolo.
E ao rezar por defunto, via, em sua mente, a alva figura de uma alma levantando
a pesada aldraba do céu com uma mão e, com a outra, segurando várias cartinhas:
uma para cada reza de criança. Outras maiores e mais pomposas: uma para cada
missa. Com espanto, percebeu que a ideia que, depois de viúva, fazia de tão
insondáveis mistérios em nada se distanciara daquela que formara quando mal
saída dos cueiros. “Até que morte os separe”. A viuvez.
2.
Dor antiga
A lembrança doloridazinha do ser
amado já há décadas sepultado. A raspa última do tacho: aquelas lágrimas que,
passada a convulsão maior da dor, esquecemo-nos de chorar. Essas retardatárias
lágrimas – conta-gotas, pingos pingados de goteira – a gente nunca deixa de
verter. Prantos silenciosos. Essas infinitesimais derradeiras lágrimas... Só
existem – parece – para conservar ardente a labareda do pesar, estranha chama.
É ela que vem apanhar a matriarca que, ali sentada, vê-se obrigada a culpar a
poeira. Habita igual modo o coração dos órfãos – agridoce relembramento: é
cicatriz, a bem dizer. Isso porque só a tem aquele que se curou de uma chaga,
mas tê-la não é o mesmo que gozar de pele imaculada.
quarta-feira, 11 de janeiro de 2012
Bactericida
Um bicho vivo
Na louca-louça suja
O pão mordido
Que ele suga
Já foi mantega
Já foi delícia
Em boca negra
Nome Patrícia.
O bicho podre
Que sobre a pia
De gente pobre
Largo se delicia
É aristocrático
É bicho gordo
Um enigmático
Bicho asqueroso.
Um bicho imundo
Morre sua vida
O moribundo
Essa ferida (vida)
Herdou dum antigo
Seu precursor (análogo de pai)
Que fora vivo
Mas acabou.
Um bicho vivo. Vivo?
Será mais não.
Surpreendido
Por água e sabão
O dia último
De vida encontra
Foi seu verdugo
Reles esponja.
domingo, 8 de janeiro de 2012
Dorme, anjo, dorme
(Imagem: http://gn9ne.blogspot.com/2011/02/snake-face.html)
CASCAVEL na cama
Sob
o pano branco
Seu
silvo reclama
Num
chiado pranto
A
volta de um tempo
A COBRA no leito
Onde
requebra oculta
No
lado em que me deito
E
indaga e consulta
Sobre
o seu tempo.
COBRA sob a fronha
Com
o mundo espantada
Esconde
a peçonha
Por
envergonhada
De
estar nesse tempo.
SERPENTE encoberta
Foge
da malícia
Que
existe na terra
E
me pede notícia
De
um outro tempo.
Quando pôde
ontem
Sussurrar manobras
Na orelha
do homem
Que ouvia
as cobras
Como aluno
ao mestre.
Dorme,
anjo, dorme
Guarda
em teu sono
A
inocência que
Se
no mundo não mais há
Não
é por culpa sua.
sábado, 7 de janeiro de 2012
É uma escolha do cliente
1. Queda
guiada
Parábola
rasga o azul
Voar em poltronas de chumbo
Aeromoças de um, mais pesado,
Chumbo. Asas, foices contra
Algodão.
Sou criança. Não sei como,
Mas espero chegar.
O capitão traz cidades
No bolso.
(A porta
se abre.
-Papai!
Agarro
suas pernas.
-Tem
balinha?)
Senhores passageiros
Sejam bem vindos a ...
Tantos destinos
(Alguns doces, outros azedinhos,
Outros difíceis de abrir, outros
de comer no palito, outros não).
2. Cair
em si
E se
perder.
Vagar em
si
E se frustrar.
Aquele eu que quis
O destino
Não o alcançará.
Será diverso o eu. O destino,
Diverso.
O que chega faz contas.
Crê que, no final,
Viajar não foi boa ideia.
Duvida da integridade de Natal.
Terá ela resistido, indaga.
Terão, enfim, invadido seus muros
(de dunas, rio e mar)?
Terão, os invasores, apagado
As páginas de minha particular
História?
O destino não o conhece.
Cão, outrora seu, a rosnar.
3.
Serviço de atendimento
Ao
consumidor.
-Senhor, não podemos devolver Seu dinheiro.
-É um absurdo!
-Ehh... Desculpe a intromissão...
-Sim.
-... mas talvez a cidade de sua infância...
-Era para lá que eu queria ter ido.
-... hoje só exista na sua imaginação.
-Um absurdo! Vocês perdem um cliente.
segunda-feira, 2 de janeiro de 2012
A Lâmina
À maneira de espelho
mostra-me seu lado
e minha face.
Para milagre
lambe a pedra
ressurreição.
Se represa
enterra-se em ventre
comportas se abrem.
Se garantia
esconde-se na cintura
pelo sim pelo não.
Como cão
morde os braços
de defesa ato.
Quando peixeira
em mãos de minha avó
limpa o peixe.
Quando faca
em mãos de minha mãe
despe o alho.
Quando canivete
em mão do pivete
descarna-me a carteira.
domingo, 1 de janeiro de 2012
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