Como passar por
adormecidos dragões
Roncando tão alto
quanto a chuva cerrada?
Visíveis sob o
raio, surdos ao trovão
Um ressona fogo, o
outro não teme nada.
Na discrição se
pode buscar salvação
Ou se pode
gritar-lhes a plenos pulmões:
“Sumam, ou lhes
ensinarei umas lições!”
O da direita de
ouro se alimenta
O da esquerda, de
miséria e padecer
No meio, o
viajante vai em marcha lenta
Só um fantoche
nesse jogo de poder.
Mas tal solução é
bem tola e arriscada
Pois a ordem
poderia não ser cumprida
E se nos
devorassem as feras despertas
Furiosas por terem
a sesta interrompida?
Melhor seria
buscar escamas abertas
Nas suas armaduras
fortes, mas trincadas
Para com boa
espada dar-lhes estocadas.
O de um lado
ostenta espada sangrenta
O outro está
disposto a matar ou morrer
O andarilho
encharcado segue em marcha lenta
Só mais um peão
nesse jogo de poder.
Podemos acordá-los
e ocultamente
Nas trevas só
esperar que voem dali
Quem sabe em busca
de mais tranquilas paragens
Ou que eles caiam lutando
entre si.
Mas também podemos
procurar por passagens
Que contornem ao
largo os dois dragões dormentes
Se é dado evitar,
por que bater de frente?
Um, só dos meus
amigos devorou setenta
O outro, tantos
que nunca vou esquecer
E na chuva o caminhante
não mais aguenta
Ser um joguete
nessa luta de poder.
Não posso demorar
colhendo opiniões
Dormirei aqui sob
as asas, entre as presas
Recostado às
garras, onde sopra o ar quente.
As pessoas que me
virem, dirão surpresas:
“Quem seria tão
corajoso ou demente
Quem jamais em
suas perfeitas condições
Cogitaria de
dormir dentre os dragões?”
Esse é tal qual
uma ferida purulenta
Aquele não fica
atrás, no meu parecer
Mas quem ia no
meio fugiu da tormenta
E foi se aninhar
entre os monstros do poder.
(07-02-2022)