1.
O
QUE OS POLÍTICOS NUNCA DIZEM E PORQUE NÃO O FAZEM.
Os
candidatos a cargos no Executivo raramente (ou nunca), procuram as câmeras para
dizer algo como: “Agora, precisamos fazer X. Eu posso fazê-lo em Y anos, a um
custo de Z dinheiros e com o auxílio de A, B e C. Para colocar esse plano em
prática, eu peço o seu voto”.
E
há motivos para um discurso nesses moldes ser evitado. Vejamos.
Se
estivermos diante de uma medida prática cuja necessidade e justiça são aceitas quase
consensualmente, o candidato não terá um produto exclusivo a oferecer, eis que,
nesse caso, ninguém ousaria propor não fazer X, ou, quando menos, não fazê-lo
já, mas depois. Nesse caso, o defensor da medida seria recebido pela audiência aos
bocejos.
Mas
e se esse não for o caso, e estivermos diante de uma medida que, sendo
polêmica, gera uma acentuada divisão na opinião pública, a opor os
visceralmente contrários ao grupo dos defensores entusiasmados, ambos ávidos
por engajar os indiferentes e indecisos? Bem, nesse caso, o candidato que
defendê-la atrairá a antipatia convicta de parcela do eleitorado, que o receberia
com sete pedras nas mãos aonde quer que ele fosse.
Indiferença
e rejeição, eis o que, muito provavelmente, espera aquele que apresentar um plano
prático a uma assembleia popular. E o político, assim como o adolescente
apaixonado, não sabe lidar muito bem com a frieza ou o desprezo do ser amado. Mas
tratemos, agora, daquilo que os políticos dizem.
2.
NARRATIVA
POLÍTICA.
Só
podemos compreender bem um texto a partir da compreensão das intenções do seu
autor. E cada vírgula dos discursos políticos tem por finalidade obter a
adoração e o engajamento dos eleitores. Desse modo, simplifica demais a questão
quem afirma que os políticos querem o nosso voto, pois eles querem muito mais
do que isso. Almejam por amor incondicional e comprometimento imediato.
É
aí que entra o que chamaremos de “narrativa política”: uma interpretação
minimamente verossímil do cenário político, que tem por objetivo conferir aos
seus caóticos eventos um sentido que favoreça o projeto de poder de um
determinado grupo. Quem a formula, portanto, não pretende apresentar uma
descrição objetiva da realidade ou um plano prático de ação, mas ganhar o
coração e a mente das pessoas comuns. Invariavelmente, as narrativas políticas
se apoiam em ideologias. São essas, para muitos, que conferem validade e
confiabilidade àquelas.
Pois
bem, a narrativa está para um programa prático de ação do mesmo modo que uma
campanha publicitária está para o manual de instruções de um produto. Ela, a
narrativa, não se apoia no valor “verdade”, mas no “convencimento”, com a
finalidade de obter o engajamento. Um homem que toma a narrativa política por
uma descrição objetiva da realidade a amparar um programa concreto de ação,
assim, é tão insensato quanto aquele que pretende se manter bem informando a
respeito dos produtos disponíveis no mercado confiando, exclusivamente, no que
lhe dizem os comerciais de TV. O distanciamento eventual entre a narrativa
apresentada no período eleitoral e as medidas práticas adotadas após as
eleições, desse modo, embora revoltante, não deveria surpreender a ninguém. Mas
seria possível evitar esse engodo? Vejamos.
3.
COMO
NÃO SER ENGANADO PELOS POLÍTICOS.
O
modo mais seguro de o eleitor evitar ser enganado, é forçando o candidato a
sair do âmbito das narrativas para entrar no campo das propostas concretas,
através de perguntas muito simples e diretas, tais como: Quais são, na opinião
do candidato, os problemas do País (Estado ou Município)? Como o candidato
pretende abordá-los? Quais são as pessoas que colocarão esse programa em
prática (quem serão os ministros ou secretários)? Quais resultados o candidato espera
obter com essa abordagem? Quanto isso irá custar aos cofres públicos? Quando os
primeiros resultados virão? Como esses resultados poderão ser mensurados e
avaliados?
Essas
são perguntas que tiram o candidato da sua zona de conforto e, por isso, eles
fugirão delas tanto quanto for possível e retornarão prontamente às narrativas
políticas.
Mas
há de se registrar que nem tudo o que um político diz pode ser enquadrado no
conceito de narrativa, tal como o apresentamos aqui.
4.
COMO
DEVEMOS OUVIR UM POLÍTICO.
Muitas
vezes, ao discursar, o político simplesmente exprime opiniões, desejos ou formula
análises descritivas sobre a conjuntura política. Essas opiniões, esses anseios
e essas análises, quando emitidos por alguém experiente que muito viu e muito
fez, proporcionam ao estudioso um raro vislumbre das ideias políticas dos
atores do jogo do poder, dado que pouquíssimos se animam a apresentar formal e
cabalmente uma súmula mais ou menos completa de suas ideias políticas.
Portanto, a tarefa árdua é a de, ao ouvir um
discurso, joeirar o que é narrativa política e o que não é. Nesse ponto, surgem
diversas questões.
5.
OS
MAIORES ENGANADORES ACREDITAM NAS SUAS MENTIRAS.
Como
saber se um político, mesmo um que você encontrou na fila do pão, está no modo
palanque? E mais, os políticos sairiam, mesmo durante o sono, desse modo? E, de
qualquer modo, seria possível fazer essa distinção simplesmente assistindo ao
discurso ou lendo o panfleto em busca de incongruências internas ou sutis
inflexões que mostrem que o político não acredita nessa ou naquela proposição?
Existiriam, por fim, entre os políticos e militantes alguns que foram enganados
pela cúpula do partido, que os convenceu da veracidade de um discurso falso
criado sob encomenda?
Essas
são perguntas difíceis, mas arrisco afirmar que, por mais bizarro que isso
possa parecer, o processo mental que leva alguém a acreditar piamente nas
próprias ficções, não importando o quão fantasiosas elas sejam, longe de ser
raro, talvez seja muito frequente. Talvez, mesmo os ideólogos e os marqueteiros
que, diante de uma folha em branco, criaram a narrativa política mais
convincente que puderam imaginar, em um segundo momento, passem a acreditar que
não existe nada mais preciso, acurado e verdadeiro do que essa narrativa.
Não
parece plausível que as estruturas partidárias sejam formadas por dirigentes
cínicos no topo e por militantes crédulos na base. Aqueles empenhados em criar
os discursos, mesmo sabendo que eles não representam descrições objetivas da
realidade, e esses, enganados por aqueles, prontos para disseminar aos quatro
cantos a mais nova narrativa que, quentinha, acabou de sair do forno.
Na
verdade, a falsidade e a ingenuidade estão igualmente distribuídas ao longo de
toda a pirâmide. Todos estão igualmente empenhados em mentir e em acreditar na
mentira de outrem ou na sua própria, desde que isso atenda aos interesses do
partido.
6.
OS
MECANISMOS DE DEFESA DA MILITÂNCIA DESMASCARADA.
É
certo que quando a força dos fatos se fizer sentir e a máscara cair, os peões
alegarão sua própria ignorância em sua defesa. Eles sustentarão que foram
enganados por uma cúpula formada por psicopatas mentirosos, que abusaram da sua
boa-fé. E que eles, os peões, não podem ser censurados por haverem acreditado
no seu rei, afinal de contas eles só obedeceram a ordens. Eles, os crédulos
peões, nada mais seriam do que inocentes cordeiros enganados por inescrupulosas
raposas. Embora, na verdade, nem as raposas sejam tão raposas e nem os
cordeiros sejam tão cordeiros, curiosamente, quando se exaure o ciclo de poder
de um grupo que disseminou a mentira, semelhante linha de defesa tende a ser
bem aceita tanto pelos ex-adeptos do partido derrotado como pelos líderes do
novo partido que se saiu vitorioso. E a explicação para isso é muito simples:
Essa medida (a condenação da cúpula conjugada com a absolvição da massa) é a
única que deixa os ex-crentes da fé derrotada em paz com suas consciências ao
mesmo tempo em que preserva o dogma da vox
Populi, vox dei. As consciências estarão apaziguadas porque a denúncia da
perversidade do líder oculta a parcela de maldade que se aninhava no coração de
cada um dos seus seguidores; ao passo que o dogma da sacralidade da opinião da
maioria restará preservado porque será apresentada a seguinte racionalização: É
certo que onde quer que uma maioria decida algo, ela decidirá bem, a não ser
que tenha sido enganada sordidamente por manipuladores das multidões.
Mas
tratemos da narrativa política petista.
7.
“AZELITE”
PETISTA
A
narrativa política petista apresenta o jogo político como uma luta do bem contra
o mal; dos pobres contra uma elite branca e opressora.
Esse
credo não resiste ao mais singelo teste. Como explicar, por exemplo, que essa
tal "elite branca odienta e antipetista” hoje corresponderia a 70% dos
eleitores? Como explicar o uso, já provado judicialmente na ação criminal do
mensalão, da máquina estatal para desvio de recursos públicos em benefício do
financiamento de um projeto de poder? Como explicar o conluio, que tem sido
esmiuçado na operação Lava Jato, do partido com as maiores e mais ricas
empreiteiras do país? Ou a propagação do petismo mesmo no seio da elite do
país?
Nesse
ponto, cabe ressaltar que não é de hoje que o petismo conta com o apoio de
relevantes setores de nossa elite acadêmica, artística, jornalística e
empresarial. Ou a elite deixa de ser elite a partir do momento em que simpatiza
com o PT?