Alguma Literatura

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segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

LABIRINTO NA RODOVIÁRIA



Seria possível, num relance, descobrir as armas de sedução de uma desconhecida?
Observemos, por exemplo, essa mãe solteira a esperar seu ônibus. Ela conversa com a irmã enquanto fiscaliza o rebento. Fumante, entre uma e outra frase volta a face ao firmamento e bafora.
A tia provoca o garoto, que se agarra nas pernas da mãe. Essa usa as coxas para encorajá-lo a falar. Suas coxas dirigem os movimentos de sua cria melhor do que fariam suas mãos? Elas poderiam governar o mundo, tamanha sua confiança. Com elas é que ela pretende controlar os homens?
Temo não podermos tirar conclusões de um gesto tão efêmero.
Também seria inútil tentar interpretar sua forma de conter a criança, quando essa se impacientou com a demora da tia: “A dinda já vem! Calma, ela vem já já!” Constrangida, sorria para estranhos como a lhes pedir aprovação ou ajuda. Ou a propor-lhes uma frágil aliança fundada na estranha cumplicidade que certos adultos nutrem entre si, quando se trata de disciplinar os pequenos. Os ecos desse comportamento chegariam à alcova? Se sim, quais seriam eles? O mudo pedido de ajuda a completos estranhos denunciaria uma amante egoísta, focada apenas no seu próprio prazer? Ou seria a necessidade de aprovação indício de uma personalidade fraca, propensa mais a ceder do que a exigir?

Mais um beco sem saída. Melhor cair fora.  

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