Alguma Literatura

Alguma Literatura

domingo, 26 de maio de 2013

ENCARNAÇÕES DA FACA (parte 3)


ENCARNAÇÕES DA FACA


3. CADERNO POLICIAL

Foi faca de ponta
Num entra e sai
Que provou, mãe conta,
Sangue de meu pai.

Quem matou, não diz
Não quer nominá-lo,
Mas foi por um triz
Que não morreu Carlos.

O Carlos, tio meu,
Foi bem socorrido
Curado, viveu
E bem tem vivido.

Ele é pai pra mim
Só vi o de sangue
Na foto carmim
Lá no alto da estante.

Minha mãe, um dia,
Sumiu com o retrato.
Eu, por rebeldia,
Fui dormir no mato.

Volto no primeiro
Coricar do galo
Luz de candeeiro
Na fresta do quarto

E encontro, na cama,
A mãe com o tio.
Acende, inflama
Meu curto pavio.

Quando vi, morreu.
Corpo ensanguentado.
“Hoje, filho meu,
Seu pai foi vingado!”

quinta-feira, 23 de maio de 2013

ENCARNAÇÕES DA FACA (parte 2)


ENCARNAÇÕES DA FACA



2.

O mundo, a primeira faca a roçar os desnudos nervos do primeiro vivente. Lâmina dada a se fazer sentir nos olhos de quem vê, ouvidos de quem ouve, pele de quem sente.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

ENCARNAÇÕES DA FACA (parte 1)


ENCARNAÇÕES DA FACA

1. FORJAS DE VULCANO

Que é de cuteleiro
Essa minha mão
Dá faca, faqueiro
Aos filhos de Adão.

E de cuteleiro
Esses dois meus braços
Agudos, certeiros
Fazem fio dos aços.

E de cuteleiro
Essa minha chaira
Devolve o luzeiro
À mais cega faca.

Nada mais me toca
Nada me comove
Como uma torta
Faca feia e pobre.

Ah, tosca cicica
Sem punho punhal
De ti deu notícia
O João Cabral?

Gume temporão
Regressa a teu pai
Segura na mão
De Vulcano e vai.

domingo, 19 de maio de 2013

GRILADO




GRILADO

Achincalhado nas passeatas, político se refugiara na roça. Espairecer. De madrugada, acordou assustado: “Até aqui?” A sinfonia dos insetos, um apitaço para sua consciência.