Alguma Literatura

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segunda-feira, 20 de junho de 2022

O Louco dos Dragões

 


Como passar por adormecidos dragões

Roncando tão alto quanto a chuva cerrada?

Visíveis sob o raio, surdos ao trovão

Um ressona fogo, o outro não teme nada.

Na discrição se pode buscar salvação

Ou se pode gritar-lhes a plenos pulmões:

“Sumam, ou lhes ensinarei umas lições!”

O da direita de ouro se alimenta

O da esquerda, de miséria e padecer

No meio, o viajante vai em marcha lenta

Só um fantoche nesse jogo de poder.

 

Mas tal solução é bem tola e arriscada

Pois a ordem poderia não ser cumprida

E se nos devorassem as feras despertas

Furiosas por terem a sesta interrompida?

Melhor seria buscar escamas abertas

Nas suas armaduras fortes, mas trincadas

Para com boa espada dar-lhes estocadas.

O de um lado ostenta espada sangrenta

O outro está disposto a matar ou morrer

O andarilho encharcado segue em marcha lenta

Só mais um peão nesse jogo de poder.

 

Podemos acordá-los e ocultamente

Nas trevas só esperar que voem dali

Quem sabe em busca de mais tranquilas paragens

Ou que eles caiam lutando entre si.

Mas também podemos procurar por passagens

Que contornem ao largo os dois dragões dormentes

Se é dado evitar, por que bater de frente?

Um, só dos meus amigos devorou setenta

O outro, tantos que nunca vou esquecer

E na chuva o caminhante não mais aguenta

Ser um joguete nessa luta de poder.

 

Não posso demorar colhendo opiniões

Dormirei aqui sob as asas, entre as presas

Recostado às garras, onde sopra o ar quente.

As pessoas que me virem, dirão surpresas:

“Quem seria tão corajoso ou demente

Quem jamais em suas perfeitas condições

Cogitaria de dormir dentre os dragões?”

Esse é tal qual uma ferida purulenta

Aquele não fica atrás, no meu parecer

Mas quem ia no meio fugiu da tormenta

E foi se aninhar entre os monstros do poder.

 

(07-02-2022)