“1896-1902
(...)
Viajando em
um bonde na companhia de Machado de Assis, conversam os dois sobre Camões, e o
jovem colegial tem o orgulho de recitar para o mestre uma oitava de Os Lusíadas
de que este queria lembrar-se e cujas palavras exatas haviam se apagado em sua
memória.”
(CRONOLOGIA DE MANUEL BANDEIRA [organizada pelo
próprio autor] In Libertinagem e Estrela da Manhã. Editora Nova Fronteira).
Diário do jovem Manuel Bandeira:
“Que
sorte a minha! Esse é o dia mais feliz da minha vida! A viagem tinha tudo para
ser maçante, mas eis que encontro, viajando só, o grande Machado de Assis! Dá
para acreditar? Não resisti e me aproximei. Disse o quanto o admirava. Como ele
se mostrou um homem calado, aproveitei que no dia anterior havia decorado, por
absoluta falta do que fazer, uma oitava de Os Lusíadas (‘Passada esta tão
próspera vitória...’) para conduzir a conversa primeiro para Camões, depois Os
Lusíadas e, em seguida, para o episódio de Inês de Castro. Enfatizei como
admirava a elegância da primeira oitava a ela dedicada. Estrofe que, a um só
tempo, introduz e sintetiza toda a tragédia. Foi o que bastou para que ele
tentasse, sem sucesso, lembrar-se das sua exatas palavras. Pedi licença e, sem
pestanejar, recitei a oitava na íntegra. Que orgulho! Foi um dia bom.”
Diário do velho Machado de Assis:
“Que
azar o meu! A viagem tinha tudo para ser tranquila, mas eis que me aparece, do
nada, um meninote tagarela, recitando Os Lusíadas de cor. Dá para acreditar?
Que porre! Hoje eu pedi para morrer.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário