Assunto: RE: Pedido de matérias so...
De : vivian_bibliotecaria@u...
Para : a-candido@t...
Sr. Artur
Segue a matéria mais antiga que
temos em nosso acervo digital sobre o tema do seu interesse. Ela foi publicada
na edição de 8 de maio de 1950 dO Cruzeiro.
Infelizmente, algumas passagens
estão ilegíveis e a segunda metade se perdeu.
Att
Vivian
“*RINTA ANOS DA EXPEDIÇÃO COSTA-MAIA: A descoberta do Sol
recôndito. Por Amanda Ribeiro.
Hoje se sabe que a existência do segundo sol foi notada no ano
de 1589 por Antonello Romano, o primeiro a adotar um método inusitado no estudo
do astro-rei: olhar dir***mente para ele por horas a fio. Antes de queimar suas
retinas, *ntendeu que não havia um, mas dois sóis *****
Ciente do caráter polêmico da descoberta, o erudito milanês a
manteve em segredo por toda sua vida. Ignorava-se que seu curiosíssimo livro
Conpendium (1603) - escrito em um idioma indecifrável e repleto de ilustrações
de máquinas, ***sagens e animais imaginários - continha uma minuciosa descrição
de sua descoberta. Por mais de um século, o Compendium foi visto apenas como um
livro estranho. Um passatempo para crianças, fruto do ócio de um rena*****ista
cego e do talento do pouco conhecido gra*urista Enrico Conti.
Coube ao professor Xisto Mendes traduzi-lo.
Esse surpreendeu o mundo ao solucionar, aos vinte e três anos, o
enigma do pergaminho de Foix, que continha a tradução, para o espanhol
seiscentista, de um trecho de quinze palavras do Compendium. Como se tratava de
um fragmento solto, sem a ident****ação do capítulo e da página, o problema
(até então considerado insolúvel) consistia em se determinar a que passagem do
Compendium ele correspondia. O tom laudatório do texto levara os estudiosos a
crer se cuidar de um excerto da dedicatória. O jovem pro***sor demonstrou o
erro e foi além. Provou se tratar da *radução das primeiras palavras do quinto
parágrafo do capítulo segundo, conhecido como ‘capítulo dos homens-pássaro’. *****
A comunidade acadêmica se encantou com o ‘Gênio de Ouro Preto’ e lotou
auditórios em suas duas excursões europeias. O seu carisma e juventude
transformaram uma obscura charada filológica em assunto dos mais comentados.
Mas a curiosidade se dissipava à medida que o tempo passava e a prometida
tradução integral do Compendium não vinha à luz. Hoje se sabe que o capítulo 31,
que contém a *ombástica revelação da existência de um segundo sol, pareceu-lhe
absurdo.
E ele não o repudiava apenas por suas conclusões.
Também o seu estilo soava deslocado do resto da obra, a qual era
abertamente imaginativa, ficcional, poética e irraci**alista. No capítulo 30,
por exemplo, havia um manual de reparos e consertos de máquinas de
desencaixotar pores-do-sol. No 32, um relato dos hábitos al**entares de um
animal híbrido chamado girafante. Já no 31, e eis o motivo do espanto, brotava uma
lúcida e metódica descrição dos meios pelos quais Antonello Romano chegou à
conclusão de que existiam dois sóis. A exc*****cidade desse capítulo o fez
duvidar da confiabilidade dos seus exemplares do Compendium. Como adquirisse
diversos outros – de diferentes épocas e países – e o problema persistisse,
passou a duvidar da autenticidade do pergaminho de Foix. Mas em não descobrindo
nada contra a idoneidade do documento, passou a questionar seu próprio método
de tradução e, por fim, a própria linguagem.
Doze anos de incessantes esforços e tentativas levaram-no à
loucura. Lívia, sua única herdeira, encontrou entre os papéis do pai quatro cadernos
onde se ***** ‘Compe***** de Milão’. Eram quase oitocentas páginas escritas em
português. Esses ***** que hoje integram o acervo da Fu**ação José Altamiro,
são um confuso emaranhado de rabiscos, rasuras, notas, versos e ***** Em
diversos pontos, frases foram apagadas e reescritas até rasgar o papel. Folhas
foram arrancadas e subst*tuídas por textos que, acredita-se, narram o que o
professor Xisto *entiu ao mastiga-las, engoli-las e digeri-las.
Com bravura, Lívia completou as lacunas e publicou o famoso
‘Compendium de Milão traduzido pelo professor Xisto Mendes’. As notas sobre o
segundo sol passaram a circular em separado em diversas edições não
autorizadas. Até hoje os **tudiosos dimensionam o impacto do capítulo 31 na
história do pensamento ocidental. São incontáveis as referências deixadas na
literatura. É de sua fase trintaeunzista, por exemplo, o célebre poema de
Galeano:
SOBRE O MOVIMENTO
Ao andar e olhar pra trás
Eu vejo a cada instante
Os pontos onde não mais
Estão meus ossos, meu sangue.
Penso, ao apertar o passo:
Mas como é possível, enfim,
Que eu corra sem que o espaço
Emporcalhe-se de mim?
Insisto, por picardia:
Por atravessar o nada
O nada se alojaria
Aos poucos na minha alma?
Como também é trintaeunzista ‘Atlântida’, obra maior da
comediógrafa Jane Woods, onde há o impagável diálogo entre Carvalhosa, o
explorador, e Nélida, a atlante:
- Você vive no cont**ente perdido?
- Curioso... Era isso mesmo que eu ia lhe
perguntar!
E não haveria um ar ocultista e, por isso mesmo, trintae*******
nos versos
Há um continente oculto
Assinalado, em mapas antigos,
Com a cifrada expressão
‘outras coisas’ *****
Os cartógrafos modernos, alheios
Ao segredo, suprimiram a observação.
Ele é banhado por um oce***
secreto
As cartas náuticas registravam
‘outros mares’
Hoje nada mais registram.
*****
No branco mais branco da
página
Em branco
Contorcem-se universos arredios.
De Blackstone? *****
Fica demonstrado, ao menos é o que entendem os cientistas
trintaeunzistas, que existe, e sempre existiu, um segundo sol, e que seu
reduzido tamanho e a proximidade da estrela principal impossibilitam sua
observação em condições normais. ***** Mas haveria, segundo os cálculos de
Romano, um ponto do globo no qual ele seria visível por alguns minutos a cada
sessenta e sete anos. Trata-se de um ponto no meio do ***”
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