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Não
sou cego, mas não enxergo bem
por
isso me socorro dos molares,
incisivos,
caninos, pré-molares
e
de outros dentes, quando convém.
Outros
como os dedos, se há ensejo.
Peçonhentos,
os meus, como serpentes.
Mas
se uso de enxergar com os dentes
(caninos
enterrados no que vejo
Com
mordidas que podem virar beijo
Ou
trincadas ainda mais potentes)
Sei
que ao ferir sou ferido também
O
mundo – faca - é liso e agudo
E
a cada mistério que desnudo
Ele
contra-ataca e cobre outros cem.
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Só
vê com os dentes quem da infância
Guardou
pedaço no bolso consigo
Como
aquele que deixa o melhor trigo
Para
a parte final da comilança.
E
não me faça essa cara assim
Como
quem diz: “não contrario louco”.
Sei
que o mundo não é moeda d´ouro...
Digo,
o mundo é moeda sim!
E
maçã, manga, banana e aipim.
Como
o sangue que urina o matadouro.
É
tão real quanto vômito e ânsia
E
exato como o trilho solar
Necessário
prensá-lo com o molar
A
testar-lhe a essência e substância.
11
BOCA
BOCA BOCA BOCA BOCA BOCA BOCA
BOCA
BOCA BOCA BOCA BOCA BOCA BOCA
MORDIDA
MORDIDA MORDIDA MORDIDA
MORDIDA
MORDIDA MORDIDA MORDIDA
DENTES
DENTES DENTES DENTES DENTES
DENTES
DENTES DENTES DENTES DENTES
VERSOS
VERSOS VERSOS VERSOS VERSOS
VERSOS
VERSOS VERSOS VERSOS VERSOS
MUNDO
MUNDO MUNDO MUNDO MUNDO
MUNDO
MUNDO MUNDO MUNDO MUNDO
MUNDO
MUNDO MUNDO MUNDO MUNDO
MOLARES
MOLARES MOLARES MOLARES
MOLARES
MOLARES MOLARES MOLARES
MOLARES
MOLARES MOLARES MOLARES
100
Se
ver com a boca muito lhe atrapalha
Se
de outra forma o mundo lhe invad´alma
Peço-lhe
apenas atenção e calma
Poucos
versos me restam na cangalha
E,
com esses versos poucos, invisto:
Sem
ouro, prata, anel ou adorno
Sem
possuir nem este vinho morno
Ou
o intervalo em que existo
Ou
o lápis com que escrevo isto
Sinto-me
dono daquilo que mordo.
Sou
senhor de coisas que o vento espalha
Se
essas não estiverem no laço
Exceção
seja feita, como eu faço
À
boca que é minha e não me falha.
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