Escreva o poema
em papel seda. O tabaco no papel enrole. Acenda o brejeiro com o fogo que, faz
mais de uma hora, prepara uma feijoada. Observe as letras no ar. As que se
disfarçam de fumaça, ignore. Anote-as em um jornal de domingo. Evite o
suplemento cultural, prefira o caderno de esportes. Recomponha palavras, versos
e estrofes. Risque as rimas por acaso formadas. Descarte, em pedaços, o diário.
Tome o cuidado de com o poema sonhar. De segunda a sábado, palavra por palavra,
o poema vá reescrevendo ao despertar. Dessa vez, mantenha as rimas, mas apenas
as pornofônicas. Em um domingo em que se coma feijoada, escreva o poema na
seda. O procedimento repita até que ele, ou você, enfim retroceda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário