Alguma Literatura

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sexta-feira, 6 de julho de 2012

VER SÓ COM A BOCA



 



1
Não sou cego, mas não enxergo bem
por isso me socorro dos molares,
incisivos, caninos, pré-molares
e de outros dentes, quando convém.

Outros como os dedos, se há ensejo.
Peçonhentos, os meus, como serpentes.
Mas se uso de enxergar com os dentes
(caninos enterrados no que vejo

Com mordidas que podem virar beijo
Ou trincadas ainda mais potentes)
Sei que ao ferir sou ferido também

O mundo – faca -  é liso e agudo
E a cada mistério que desnudo
Ele contra-ataca e cobre outros cem.


10
Só vê com os dentes quem da infância
Guardou pedaço no bolso consigo
Como aquele que deixa o melhor trigo
Para a parte final da comilança.

E não me faça essa cara assim
Como quem diz: “não contrario louco”.
Sei que o mundo não é moeda d´ouro...
Digo, o mundo é moeda sim!

E maçã, manga, banana e aipim.
Como o sangue que urina o matadouro.
É tão real quanto vômito e ânsia

E exato como o trilho solar
Necessário prensá-lo com o molar
A testar-lhe a essência e substância.

11
BOCA BOCA BOCA BOCA BOCA BOCA BOCA
BOCA BOCA BOCA BOCA BOCA BOCA BOCA
MORDIDA MORDIDA MORDIDA MORDIDA
MORDIDA MORDIDA MORDIDA MORDIDA

DENTES DENTES DENTES DENTES DENTES
DENTES DENTES DENTES DENTES DENTES
VERSOS VERSOS VERSOS VERSOS VERSOS
VERSOS VERSOS VERSOS VERSOS VERSOS

MUNDO MUNDO MUNDO MUNDO MUNDO
MUNDO MUNDO MUNDO MUNDO MUNDO
MUNDO MUNDO MUNDO MUNDO MUNDO

MOLARES MOLARES MOLARES MOLARES
MOLARES MOLARES MOLARES MOLARES
MOLARES MOLARES MOLARES MOLARES

100
Se ver com a boca muito lhe atrapalha
Se de outra forma o mundo lhe invad´alma
Peço-lhe apenas atenção e calma
Poucos versos me restam na cangalha

E, com esses versos poucos, invisto:
Sem ouro, prata, anel ou adorno
Sem possuir nem este vinho morno
Ou o intervalo em que existo

Ou o lápis com que escrevo isto
Sinto-me dono daquilo que mordo.
Sou senhor de coisas que o vento espalha

Se essas não estiverem no laço
Exceção seja feita, como eu faço
À boca que é minha e não me falha.

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